4/20/2011


"E.,


Lamento o nosso fim, apenas isso, o fim. Eu sei que pensas que me arrependo, que talvez agora daria tudo para nunca te ter deixado entrar nos meus dias, nos meus pensamentos, nas minhas noites.. Mas enganas-te, nem por um minuto eu voltaria atrás, a não ser no exacto momento em que te vi dentro do carro parado na porta da minha casa num dia solarengo há umas quantas semanas atrás! Aí sim, voltava e revivia. Nada foi em vão, fizeste-me aperceber-me que afinal não sou tão gélida quanto as noites no deserto e que sim, ainda consigo sentir e eu fiz-te ver o quanto é bom ser honesto, o quanto é bom sentir um à vontade com a pessoa que se está. Foi um misto que emoções tão fortes que agora dói, nunca pensei que fosse doer tanto, mas dói, em mim e em ti. Não sei compreender ao certo como te sentes, se te sentes mal por me teres feito ficar quando a vontade era ir embora ou se é esse misto de emoções duvidosas por mim e por outra que te deixa assim, angustiado, revoltado contigo mesmo.
Infelizmente, eu não consigo deixar de ouvir a tua voz na minha mente, de todas as palavras que me disseste que confortaram o meu coração e todo o meu ser, não consigo deixar de lembrar das mensagens que recebia logo depois de desligar a chamada, de todas as certezas que me deste e que acabaste por tirar. No fundo, também sinto revolta. Revolta de saber que ainda há, havia muito para viver e que isso nos foi tirado, não te julgo, nunca o fiz.
Foi bom ter vivido isto a dois, sem nenhum lutar mais do que o outro… Tu com todas as tuas constantes provas das tuas supostas certezas e eu, embora quieta a entregar-me a ti, sempre um pouco mais, todos os dias um pouco mais.
Custa lembrar que agora o meu adormecer vai ser sem uma chamada tua, é irónico o quanto nos habituamos às coisas em pouco tempo, custa acordar pelo despertador não com a tua voz que sem dúvida alguma me trazia calmaria logo pela manhã. Lembro-me como se fosse hoje, a primeira vez que me pediste mimos e eu recusei-te isso, quando jantamos pela primeira vez e quando percebi que tu, eras somente tu e não tentavas ser outro naquele espaço de tempo que falavas, que estavas comigo. Era reconfortante o teu bem-estar, sentir que te sentias bem comigo, melhor era quando me olhavas nos olhos e eu fugia o olhar pois eu sabia o que iria acontecer dali adiante.
É frustrante o nosso afastamento e tenho esperança que um dia pares, penses e sintas todas as certezas que sentiste durante a nossa breve história. Espero que tenhas saudades minhas, espero que quando saires da capital e chegues ao norte relembres a força com que me abraçavas quando nos reencontrávamos pois eu lembro-me, e eu vou ter saudades tuas, todos os dias até um dia não me lembrar mais de ti.
Eu tinha planos para nós, tal como tu. Dizes não querer magoar, não querer desiludir mas que sabes que o fizeste e isso parece consumir-te mas mesma maneira que a tua ausência e o teu silêncio me consome. Por segundos odeio-te, por segundos porque não há nada que me faça querer o teu mal. Apenas o teu bem, somente o melhor para ti e no fundo eu sei que vou esperar por ti… Volto a dizer, ficou tanto por fazer, tanto por viver que não é justo acabar assim. Fazer isto voltar às cinzas, não é e tu concordas comigo.
Por impressionante que seja, consigo me lembrar de ti em várias cidades, em várias ruas, na porta da minha casa, no meu telemóvel, o teu cheiro ainda sufoca as minhas roupas que permanecem com o teu perfume que teimavas em deixar sempre que me abraçavas, consigo me lembrar até como sabia o teu beijo, o teu jeito de miúdo trapalhão de andar, a tua respiração quando tinhas sono e te deitavas, o teu riso, oh como eu achava piada ao teu riso parvo, a maneira como entoavas as palavras, o jeito como abraçavas e o jeito que mesmo com receio tentavas fazer que as tuas mãos percorressem o meu corpo. Eu podia sentir à distância o teu desejo por mim, só pelo jeito que olhavas, eu adorava o teu ciúme doentio por mais que eu dissesse que não, adorava o jeito que amuavas quando eu falava de outro rapaz e a maneira que me contavas o teu dia, cheio de pormenores sem nunca pensar duas vezes no que irias dizer, como era bom saber de ti… Conseguir arrancar de ti cada pensamento que tinhas, cada medo, cada vontade, cada desejo. Fico-me por aqui, talvez à espera que não sigas em frente e que voltes para perto de mim. Até já, ainda tua, b." 24.03.11

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